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Simone Mazzer celebra os dez anos de ‘Férias em videotape’, álbum com que desafiou o ‘império pop liquidação’

Simone Mazzer volta ao repertório do álbum 'Férias em videotape' em show agendado para 9 de julho no Rio de Janeiro Carla Yared / Divulgação ♫ MEMÓRIA ...

Simone Mazzer celebra os dez anos de ‘Férias em videotape’, álbum com que desafiou o ‘império pop liquidação’
Simone Mazzer celebra os dez anos de ‘Férias em videotape’, álbum com que desafiou o ‘império pop liquidação’ (Foto: Reprodução)

Simone Mazzer volta ao repertório do álbum 'Férias em videotape' em show agendado para 9 de julho no Rio de Janeiro Carla Yared / Divulgação ♫ MEMÓRIA ♫ E assim se passaram dez anos... Simone Mazzer bem poderia cantarolar o refrão de Dez anos, bolero popularizado em 1951 na voz de Emilinha Borba (1923 – 2005) para se referir ao tempo de lançamento do álbum que projetou o canto de Mazzer, Férias em videotape, disco produzido por Leonel Pereda e lançado em março de 2015. Cantora de Londrina (PR) que pôs os pés na profissão em 1989, tendo integrado a banda Chaminé Batom na década de 1990, Simone Mazzer era conhecida sobretudo como atriz da prestigiada Cia. Armazém de Teatro quando, a partir de 2012, começou a reinvestir na carreira de cantora, desta vez fora das fronteiras paranaenses. Show feitos pela artista no Rio de Janeiro (RJ) revelaram, para plateias antenadas, intérprete de voz potente e dramática. Três anos após esses primeiros shows em palcos cariocas, a edição do álbum Férias em videotape projetou o canto da atriz, dividindo águas no curso profissional da artista. O álbum foi editado pelo selo Pimba – da gravadora Dubas, de Ronaldo Bastos, de quem a cantora regravou Você não sacou (1997), parceria de Bastos com Celso Fonseca – e cumpriu a missão de criar aura hype em torno de Simone Mazzer na imprensa musical. É por isso que, surfando na onda de shows comemorativos de efemérides de discos, a cantora sobe ao palco do Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro (RJ), na próxima quarta-feira, 9 de julho, para celebrar a primeira década desse grande álbum em que gravou Tango do mal (Luciano Salvador Bahia, 2014), soltando a voz quente em versos deliciosamente abusados como “Vou esfregar um tango / No seu jeitinho serenata de encomenda / ... / No seu império pop liquidação”. O repertório do álbum herdou músicas do roteiro do show que vinha sendo feito por Mazzer. Unindo a voz à dramaticidade natural, a cantora registrou música teatral de Itamar Assumpção (1949 – 2003), Parece que bebe (1994), e tirou Camisa listrada (Assis Valente, 1939) da cadência do samba para realçar o drama conjugal da personagem às voltas com marido abusivo. Enfatizando a história musical que vivera antes da projeção como atriz da Cia. Armazém, Mazzer fez questão de dar voz a músicas de compositores paranaenses, situados longe demais das capitais. De Robinson Borba, a cantora reviveu, nos tons incandescentes do flamenco, Mente, mente, música lançada em 1986 na voz de Ney Matogrosso. De Bernardo Pellegrini, Mazzer gravou Essa mulher – em dueto com Elza Soares (1930 – 2022) – e Dei um beijo na boca do medo, música que explicitou o clima de cabaré em que o disco foi ambientado. Em trilho mais óbvio, Mazzer reviveu Back to black (Amy Winehouse e Mark Ronson, 1996), carro-chefe do repertório da cantora inglesa Amy Winehouse (1983 – 2011), e cantou o mambo Babalu (Margarita Lecuona, 1939), emblema na voz de Angela Maria (1929 – 2018). Em contrapartida, a artista surpreendeu ao se jogar na pista dos anos 1990 com o canto de Hyper ballad (Björk, Nellee Hooper e Marius De Vries,1995), tema do repertório de Björk, e acendeu Estrela blue, um blues do compositor Maurício Arruda Mendonça, antes de se deixar levar pela melancolia, ao fim do álbum, no clima ameno da música-título Férias em videotape (Elton Mello, Silvio Ribeiro e Simone Mazzer). Após Férias em videotape, Simone Mazzer lançaria outros três álbuns ao longo desses dez anos. Com exceção do disco de 2020 em que a intérprete teve a força abafada ao cantar o repertório do compositor Nelson Cavaquinho (1911 – 1986) com o toque do grupo Semente, os outros dois discos confirmaram o talento da artista. Em 2017, a cantora caiu no suingue funky do grupo francês Cotonete em exuberante álbum assinado por Mazzer com a banda. Em 2022, a cantora fez do disco Deixa ela falar um brado retumbante a favor da liberdade dos corpos. Contudo, Férias em videotape permaneceu em lugar de honra na discografia da artista pelo jorro explosivo de uma voz que abalou as estruturas do império pop liquidação nacional sem sair da cena alternativa.

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