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Insatisfeito, Silva parece desconhecer que cada música e artista têm alcance, espaço e público próprios no mercado

Silva tem obra autoral de menor alcance do que os shows em que canta hits da axé music Reprodução / Instagram Silva ♫ ANÁLISE ♬ Todo o universo pop foi ...

Insatisfeito, Silva parece desconhecer que cada música e artista têm alcance, espaço e público próprios no mercado
Insatisfeito, Silva parece desconhecer que cada música e artista têm alcance, espaço e público próprios no mercado (Foto: Reprodução)

Silva tem obra autoral de menor alcance do que os shows em que canta hits da axé music Reprodução / Instagram Silva ♫ ANÁLISE ♬ Todo o universo pop foi surpreendido com o tom agressivo dos comentários feitos por Silva durante show apresentado em festival de Brasília (DF) no domingo, 7 de setembro. O cantor foi deselegante ao se referir a nomes como a cantora Luísa Sonza e a empresária Paula Lavigne em considerações sobre o mercado. Não cabe aqui incentivar o tribunal da internet que julga e condena artistas por uma fala ou gesto infeliz. Silva estava evidentemente em um mau momento na noite de domingo. Tanto que ontem, 9 de setembro, o cantor se pronunciou em rede social com fina ironia. A questão que chamou atenção é que o artista parece insatisfeito com a posição que ocupa no mercado. E, mais do que isso, parece desconhecer que cada tipo de música e artista têm um alcance, um espaço e um público próprios. Silva lançou no ano passado um revigorante álbum autoral, Encantado (2024) em que ecoa em algumas faixas a sonoridade da obra do pianista e compositor João Donato (1934 – 2023), a quem o cantor dedica o disco. O álbum é ótimo, mas não encantou o público que ia atrás do Bloco do Silva para ouvir sucessos da axé music. Tanto que a pista vazia da Arena Jockey ficou vazia no show de lançamento do disco Encantado, no Rio de Janeiro (RJ), em 1º de novembro de 2024. Silva apresentou grande show para um público pequeno e, em maioria, disperso, nada interessado no show (ficou a impressão de que era um público convidado de última hora para tentar disfarçar a baixa procura por ingressos). Esse é o X da questão. Silva ampliou o público com discos e shows com repertório alheio, em movimento iniciado em 2016 com o álbum em que deu voz ao cancioneiro de Marisa Monte. Só que esse público mais amplo tem demonstrado pouco interesse pelo som autoral de Silva. Sim, o público dos álbuns autorais de Silva é bem menor. É essa conta que parece não fechar na cabeça do artista. É injusto Silva reclamar que somente é convidado para cantar músicas alheias no programa Altas horas (TV Globo), apresentado por Serginho Groisman. Ora, o programa Altas horas passa na TV aberta e é preciso seduzir a massa, o chamado grande público, aquele que somente foi atrás do cantor com o Bloco do Silva. Tem lugar para todo mundo no mercado. Mas é preciso que cada artista saiba o lugar que ocupa nesse mercado. João Donato nunca se apresentou em grandes casas de shows e, nem por isso, deixou de ser um dos gigantes da MPB. Cantores e músicos de jazz se apresentam em clubes dedicados ao gênero, como as casas da franquia Blue note, e lá encontram um público interessado na música que fazem. Citada por Silva em um dos comentários (“...Vamos fazer música séria neste país. A gente está no país da Gal Costa, João Donato, Tom Zé.”), Gal Costa (1945 – 2022) somente se tornou uma cantora de fato popular a partir da segunda metade da década de 1970, quando deixou de ser a musa da contracultura em discos e shows aclamados por um público mais antenado, mas nunca massivo. E o que dizer de Tom Zé, cujos discos sempre foram cultuados em nichos? Se Silva ajustar a expectativa mercadológica ao alcance dos (inspirados) trabalhos autorais do artista, talvez fique em paz com o mercado que ora critica, mas do qual também já foi atrás com o bloco do axé. Nada que umas sessões com o terapeuta do artista não possam resolver...

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