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Chega bem aos 50 anos o álbum que confirmou Clara Nunes como a grande voz do samba na década de 1970

Clara Nunes (1942 – 1983) na foto estampada na contracapa do álbum ‘Claridade’, de 1975 Sérgio Matulevicius / Contracapa do álbum ‘Claridade’ ♫ M...

Chega bem aos 50 anos o álbum que confirmou Clara Nunes como a grande voz do samba na década de 1970
Chega bem aos 50 anos o álbum que confirmou Clara Nunes como a grande voz do samba na década de 1970 (Foto: Reprodução)

Clara Nunes (1942 – 1983) na foto estampada na contracapa do álbum ‘Claridade’, de 1975 Sérgio Matulevicius / Contracapa do álbum ‘Claridade’ ♫ MEMÓRIA ♫ Com o lançamento do álbum Claridade em 1975, em edição em LP de capa dupla que mostrava o alto investimento da gravadora Odeon na maior vendedora de discos da companhia fonográfica, ficou evidente que Clara Nunes era a grande voz feminina do samba na década de 1970. E o investimento da empresa resultou frutífero, pois o disco estourou em todo o Brasil e confirmou o reinado de Clara. A rigor, a mineira Clara Francisca Gonçalves (12 de agosto de 1942 – 2 de abril de 1983) já vivera momento de consagração e consolidação da carreira em 1974, ano em que o álbum Alvorecer emplacou o samba Conto de areia (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1974) em escala nacional, mostrando que a conversão da cantora ao samba tinha sido acertada e definitiva, além de sincera. Clara se transformou em sambista – em movimento orquestrado pelo radialista e produtor musical e radialista Adelson Alves – a partir do álbum de 1971 impulsionado pela popularidade do samba Ê baiana (Fabrício da Silva, Baianinho e Ênio Santos Ribeiro). Na sequência, Adelzon produziu em 1972, 1973 e 1974 os álbuns posteriores de Clara, com quem o radialista também se envolveu afetivamente. Só que, na época da criação do álbum Claridade, a cantora e Adelzon já tinham rompido o namoro (de forma nada amistosa) e Clara já estava em um relacionamento com Paulo César Pinheiro, compositor que seria o produtor dos álbuns de Clara a partir de Canto das três raças (1976) e com quem Clara se casaria em julho de 1975. A gravadora Odeon queria que Pinheiro assumisse a produção do álbum Claridade, mas ele recusou. Nesse sentido, o álbum Claridade foi espécie de título de transição na discografia da artista. Adelzon já não estava presente e Pinheiro aparece na ficha técnica do LP somente como compositor, parceiro do então ainda desconhecido Guinga na melancólica Valsa do realejo (1975) e do bamba carioca João Nogueira (1941 – 2000) no animado partido alto Bafo de boca (1975). O produtor musical e arranjador do álbum Claridade foi o violonista Hélio Delmiro (1947 – 2025) – indicado por Paulo César Pinheiro e creditado como produtor executivo na ficha técnica original do LP – em parceria com Renato Correa, nomeado como diretor de produção. Contudo, é claro que, de forma indireta, Adelzon Alves também foi responsável pelo repertório do LP, cujo lado A é irretocável enquanto o lado B soa menos aliciante, mas de bom nível. Afinal, tinha sido através de Adelzon que Clara se aproximara de bambas da escola de samba Portela como Candeia (1935 – 1978), compositor de O último bloco (1975) e de O mar serenou (1975), um dos dois grandes sucessos radiofônicos do álbum. O mar serenou abria o disco com saudação à figura feminina, versando sobre mulher que encanta tudo e todos quando samba na areia, como se fosse uma sereia. De outro ilustre portelense, o compositor Alberto Lonato (1909 – 1998), Clara regravou Sofrimento de quem ama (1970), grande samba apresentado em disco há então cinco anos em álbum da Velha Guarda da Portela. Da lavra geralmente mórbida do mangueirense Nelson Cavaquinho (1911 – 1986), Clara deu voz e luz a Juízo final, samba esperançoso composto por Nelson em parceria com Élcio Soares e lançado pelo autor em disco de 1973. Além de O mar serenou, o outro grande sucesso nacional do álbum Claridade veio da lavra de Romildo Bastos Bastos e Toninho Nascimento, os mesmos compositores de Conto de areia, hit blockbuster do já mencionado álbum anterior Alvorecer. Trata-se de A deusa dos orixás, estilizado ponto de umbanda que versava sobre entidades das religiões de matriz afro-brasileira, uma das marcas mais fortes da discografia de Clara Nunes. Na seara do samba, Clara pescou pérola lustrosa da década de 1940, Tudo é ilusão (Aníbal da Silva, Eden Silva e Tufic Lauar), grande samba lançado em 1944 na voz da cantora fluminense Odete Amaral (1917 – 1984) e depois revivido por Dalva de Oliveira (1917 – 1972) em fase crepuscular dessa diva da era do rádio. Do pioneiro bamba carioca Ismael Silva (1905 – 1978), Clara ganhou o inédito e manemolente samba Ninguém tem quem achar ruim (1975). Do então quase debutante Ivor Lancellotti, a cantora gravou o samba Às vezes faz bem chorar (Ivor Lancelloti, 1975), samba-canção embalado com cordas, recorrentes em alguns arranjos do álbum. Samba do portelense Monarco (1933 – 2021) em parceria com Walter Rosa (1925 – 2002), Vai amor (1975) manteve o álbum Claridade no tom melancólico reiterado no fecho do disco com música então inédita de Cartola (1908 – 1980), Que sejas bem feliz (1975), samba-canção embebido em lirismo. Ainda que o repertório do lado A soe bem superior ao B, o álbum Claridade – relançado há dois anos no formato original de LP – chega aos 50 anos como atestado perene da imortalidade de Clara Nunes como uma das maiores cantoras do Brasil. Capa do álbum ‘Claridade’ (1975), de Clara Nunes (1942 – 1983) Sérgio Matulevicius

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